Luiz Felipe Pondé erra de maneira grosseira em artigo sobre bikes, carros e mobilidade urbana

Luiz Felipe Pondé com as mãos para cima em gesto esquisito

Eu já escrevi aqui que sou pró-bike, mas não sou anti-carro, pelo contrário; e que uma coisa não implica na outra. O objetivo é a convivência pacífica nas vias, com paciência e respeito de todos os lados. Mas às vezes surgem argumentos difíceis de aguentar.


Em sua coluna intitulada “A Erva Daninha”, Luiz Felipe Pondé se mostra ignorante em relação ao uso de bicicleta e destino de impostos no Brasil. Não há problema algum em ser desinformado quanto a estes temas, o problema é publicar informações erradas em um grande veículo de mídia, no caso, a Folha de S. Paulo, que as pessoas tomam como portador da verdade. Ele diz:

Ciclistas já os odiavam [os motoristas] quando passavam com seu ar de santo ecológico pelos pobres coitados dos motoristas que não moram numa “pequena Amsterdã”, como a moçada da classe média alta que mora perto do trabalho ou da “facul”, ou que tem um trampo fácil, sem horas duras, ou ganha muito bem ou tem grana de outra fonte e então pode ir de bike para o trabalho ou para a “facul”.

Faltou apuração, 93% dos ciclistas que usam bike no trajeto cotidiano no Brasil são das classes C, D e E (fonte: Vida Simples edição especial #6 – De bike é mais gostoso, Editora Abril). Inclusive, nos acidentes envolvendo ciclistas que tiveram exposição na mídia recentemente, as vítimas eram, todas, pobres: atropelamento da carreta, braço jogado no rio por motorista bêbado, atropelamento por filho de ex-bilionário, preso no para-brisa de motorista bêbado. Muito distantes, portanto, dos tais “santos ecológicos” descritos no texto publicado na Folha.

Luiz Pondé continua:

O ódio ao motorista virou demonstração de consciência social e ambiental -outro modismo contemporâneo. Esquece-se que essas pessoas são cidadãs como todas as outras. Que pagam impostos exorbitantes para comprar os carros e IPVA todo ano. Pagam IPVA, mas logo não terão direito de andar de carro pela cidade.

O IPVA não é arrecadado para a construção de vias (ruas, avenidas, rodovias etc). Após arrecadado, 50% da verba do IPVA fica com o Estado e 50% com o município que o arrecadou, e como todo imposto, o IPVA entra em um bolo total que é dividido conforme prioridade definida pelo administrador público, destinado à saúde, educação, saneamento etc. Portanto, o IPVA não é “o imposto que dá direito ao dono de carro de usar mais espaço na rua que os demais veículos”, pelo contrário, o IPVA sequer paga os gastos com a saúde pública resultantes dos danos causados por carros e motoristas.

Luiz Pondé escreve ainda:

Claro que a playboizada que gosta de estimular ódio social vai dizer que motorista de carro não deve ter direito nenhum porque é parte das “zelite”. Mentira: a maioria dessas pessoas corre de um lado para o outro para trabalhar, estudar, levar filhos à escola e cumprir suas obrigações. E agora viraram a erva daninha da cidade.

70% do espaço público é usado por 30% das pessoas, que usam carros particulares. Portanto, sim, por mais que sejam muitos, os carros são usados pela minoria da população brasileira, a maioria usa outros meios de transporte (fonte: Vida Simples edição especial #6 – De bike é mais gostoso, Editora Abril).

Acho que faltou apuração e boa vontade, mas sobrou a intenção de agradar o leitor médio-classista, com uma opinião fácil e conservadora, concorda?