o mito do CEO que diz acordar 4am para ler milhares de emails todos os dias
o CEO da nvidia foi ao podcast de joe rogan e afirmou que lê milhares de emails por dia, ainda de manhã. um dia tem 1440 minutos. se alguém diz que lê milhares de mensagens antes do almoço, a pergunta é simples: qual é a qualidade dessa leitura? ou estamos diante de exagero, ou é pura construção de imagem.

nesse nível de poder, nada é dito por acaso. qualquer frase pública de um CEO serve para proteger ou elevar o preço da ação. se um executivo bilionário fala algo que possa derrubar o valor da empresa, a reação do mercado e a chuva de processos chegam rápido. por isso esses relatos sempre soam heroicos, incansáveis e impossíveis. são pensados para impressionar, não para informar.
quando CEOs dizem que trabalham sete dias por semana, o objetivo é reforçar essa persona. e, para isso, a palavra “trabalho” vira uma categoria elástica. entra na conta o treino de jiu-jitsu antes do jantar de cinquenta mil reais por pessoa. entra o pedido de relatório enviado da lancha a caminho do iate. entra a balada com outros bilionários cercados de profissionais precarizados que garantem o serviço enquanto todos afirmam estar em “networking”. nada disso tem relação com a rotina real de quem depende de salário e acorda cedo por necessidade, não por performance midiática.

o ponto não é moralizar esses hábitos. o ponto é mostrar que essa narrativa só existe porque há um incentivo permanente para performar excepcionalidade. a figura do CEO incansável não surge da realidade, mas da necessidade de manter a máquina financeira satisfeita.
o que realmente incomoda é ver essas alegações circulando sem questionamento, repetidas por entusiastas de tecnologia como se fossem orientações de vida. não são. são peças de relações públicas, calibradas para proteger capital e prestígio.
a história do CEO que trabalha 18 horas por dia e lê milhares de emails não explica nada sobre liderança ou inovação. explica apenas a distância entre o marketing pessoal desses executivos e o mundo em que a maioria das pessoas vive.

