“woke” nem existe! extrema direita usa o ‘anti-woke’ para deslegitimar lutas sociais e preservar o status quo
certa vez, numa reunião com pessoas de vários países, o líder brasileiro do time disse que nós deveríamos “chupar as bolas” do cliente. essa situação foi profundamente constrangedora, especialmente considerando a diversidade na sala, que incluía pessoas de culturas diferentes e pessoas homoafetivas. questionar esse comportamento é “woke”? ou é simplesmente exigir o básico de respeito e ética?
pode-se dizer que “woke não existe”: nem intelectuais progressistas, nem pessoas da academia, trabalham com o conceito “woke”. a noção atual de “woke”, como aponta michael harriot, é mais uma invenção da direita para corromper e invalidar discursos progressistas. originalmente usado na comunidade negra para alertar contra injustiças e desigualdades, o termo woke foi cooptado, esvaziado e transformado em arma política da extrema-direita. essa estratégia não é nova: é parte de um ciclo histórico de backlash contra avanços sociais. toda vez que há progresso – seja na abolição da escravidão, nos direitos civis ou na luta LGBTQIA+, surge uma reação organizada para distorcer e deslegitimar esses movimentos.
a tática da direita é conhecida: cria-se um inimigo imaginário, como judeus, ciganos, haitianos, imigrantes, ou o “woke”, e este inimigo imaginário é usado como bode expiatório para qualquer dos problemas sociais. políticos como ron desantis, fernando holiday, kim kataguiri e figuras como tucker carlson e rodrigo constantino reempacotam preconceitos estruturais e vendem isso como resistência a um suposto autoritarismo progressista. a luta por direitos básicos vira “doutrinação”, a inclusão vira “ameaça” e a igualdade é retratada como uma força desestabilizadora. o objetivo final é claro: preservar o status quo, mascarando racismo, homofobia e misoginia como “defesa da liberdade”.
essa manipulação semântica não apenas desvia o foco das reais questões sociais, como também cria um ambiente onde se torna aceitável ridicularizar qualquer esforço de transformação. criticar um comentário machista como o que presenciei não é sobre ser “woke”. é sobre recusar a normalização de comportamentos que perpetuam desigualdades.
a guerra contra o “woke” é, no fundo, uma guerra contra a consciência social. ao corromper termos e distorcer lutas, a direita constrói uma narrativa em que o progresso é o inimigo, e quem busca justiça é rotulado como extremista. mas, como mostra a história, essa reação não é sinal de força – é sintoma do medo que o poder tem do despertar coletivo.
com informações de: https://www.theguardian.com/us-news/2022/dec/20/anti-woke-race-america-history