A Internet e o fenômeno do auto-bigbrothering
Em sua palestra sobre Inovação no MeioBit Expo, Luli Radfahrer observou que algumas décadas atrás a maior preocupação que tínhamos era a do controle e observação do tirano Big Brother, que iria monitorar e observar todos os nossos passos, mas hoje, disse Radfahrer, nós nos auto-bigbrotheamos pelo Twitter.
Fiquei intrigado com tal observação, se num passado recente nós temíamos o controle e observação, por que hoje fazemos questão em dizer o que estamos fazendo e pensando através de microblogs, redes sociais, blogs e status de mensageiros instantâneos? Concluí que a grande diferença entre o controle tirano descrito no livro 1984 (de George Orwell) para o auto-bigbrothering que praticamos hoje é o controle de quais informações compartilhamos.
Na Internet eu escolho o que vou compartilhar
Todos nós temos informações que julgamos privadas, coisas que preferimos deixar restritas apenas à pessoas próximas ou até totalmente secretas, informações que só você tem.
No controle exercido pelo tirano Big Brother, o indivíduo não tem o poder de escolher o que compartilhar, as teletelas estão presentes em quase todos os ambientes, observando tudo e todos, e onde não há uma teletela há um membro do Partido esperando que você cometa um deslize pra que ele conte às autoridades e aumente seu prestígio, cada um por si e Deus contra todos.
O mundo digital contemporâneo, no entanto, nos deu o controle do que compartilhar, eu escolho que diretórios do meu computador ficarão disponíveis nas redes de compartilhamento de arquivos, minha coleção de músicas está disponível pra qualquer um pegar, minhas fotos não. Eu escrevo no Twitter as informações que acho que serão relevantes pra quem me segue, mas nunca conto coisas que possam me comprometer ou ridicularizar.
A Internet deu poder pra que cada um de nós se tornasse um hub social, um indivíduo, sozinho, pode formar opiniões de vários outros através de sua influência, e ainda assim ter o controle de quanta informação quer compartilhar, podendo, inclusive, escolher não compartilhar informação alguma.
The revolution will put you on the driver’s seat
(A revolução vai colocar você no assento do motorista)
O lance da escolha é bem relativo. Por mais que podemos decidir quais informações serão compartilhadas, cada vez menos podemos decidir em não compartilhar. A era da informação que nossos professores falavam tanto está se tranformando na era da colaboração e quem “decide” ficar de fora, “não existe”.
@dirceu: Entendo seu ponto, realmente quem escolhe ficar de fora da tal Inclusão Digital pode sim ser bastante prejudicado. Talvez a Internet seja a Marca da Besta, descrita no Apocalipse, uma marca que, quem não tiver, nao vai poder comprar nada ou vender coisa alguma.
Mas ainda assim você há de concordar que o cenário atual é muito mais humano que o descrito por George Orwell em 1984, em que tudo e todos estavam contra o cidadão, o tempo todo.
Boas referências pra este cenário são os livros 1984 e A Revolução dos Bichos e os filmes V de Vingança e Equilibrium, todos mostram bem este controle excessivo feito pelo Sistema.
Também tem a lance de que quase todo mundo quebrou o paradigma de que famosos, ricos, e etc estão do outro lado da fibra ótica e que podem ser ícones de seus nichos.
Lutamos para aparecer com o pagerank mais alto que conseguirmos, mesmo que percamos alguns dentes no caminho. A questão é: Até onde isso vale a pena?
A Emuxihzasão da web (inclusão digital) tem seus prós e contras (sim, devem existir prós em algum lugar).
Mas quanto ao que é pessoal, fica do senso crítico de cada um guardar para si mesmo.
Marco,(viu, escrevi certo!), acho que existe mais um ponto a ser observado: o Big Brother observava a pessoa, vigiava. No Twiter ou outros serviço, a pessoa se mostra. Nenhuma das duas mostra a pessoa de verdade. A primeira não se porta como ela é verdadeiramente: ela sabe do controle do Grande Irmão e sabe as conseqüências de se comportar contra ele. A do Twiter também sabe que está sendo lida, observada. Ela vai usar uma “persona”, uma faceta, um outro eu, aquele que ele quer que vejam, como ela quer que pensem dele. Ela não vai colocar “eu abri a geladeira e bebi leite do gargalo”… ou até vai, mas querendo se expor, querendo passar essa imagem. A pessoa só se mostra como é realmente se ela não souber sobre a observação. Num exemplo fácil, bobo e cara-de-mamão, podemos lembrar das infames brincadeiras de câmera escondida, onde observamos pessoas muito mal-educadas que se transmutam na hora que sabem que é brincadeira.
PS – Você sabe que vai ter milhares de leitores paraquedistas né? É o preço (ou bônus para alguns…) por usar tanto o termo Big Brother em um post…
Poxa que plugin bacana este de posts relacionados que vc está usando, qual o nome dele?
Marco;
O ser humano é movido pelo seu próprio ego e mostrar-se é uma maneira de alimentar esse ego. Existe a necessidade de dizer a todos: – Ei olhem para mim, vejam o que estou fazendo. Mesmo que sejam coisas ruins. É o velho ditado: Falem mal, mas falem de mim.
A boa notícia como você mesmo comenta em seu texto é que podemos controlar o que será exposto ou não e aí entra o nosso bom senso e o controle de nosso ego ou quem sabe do nosso lado “ator de teatro” que só mostra o que queremos que os outros acreditem que nós somos.
De qualquer maneira o fenômeno “auto-bigbrothering” não me preocupa pelo fato já citado: Só se expõe quem quer e na medida em que quer.
Um abraço!
Esta discussão é interessante… O que me preocupa não são as informações explicitamente compartilhadas nas mídias sociais e sim as informações implicitamente coletadas a nosso respeito…
Na verdade não seria algo do tipo big brother, seria mais little brothers o que está acontecendo.
“auto-bigbrothering”
Ótima definição, embora ache que é modismo, coisa do ego. Alguns vão aderir, outros…
Olá! Compartilhar suas idéias ou informações é algo que não tem preço. Sempre tem alguém que vai achar interessante. Acho que não devemosa guardar nada!
Internet esta criando uma nova forma de sociedade, e muitas pessoas esquecem que cada grupo tem uma ideologia: “A ideologia do grupo, portanto, serve como um amortecedor para os desejos individuais, procurando conciliá-los, sempre que possível , aos interesses coletivos que, estando acima dos interesses individuais,deveriam promover o bem comum”. Pra Durkheim a pessoa não existe; ela existe somente pelo fato da sua socialização no grupo. Twitter, Facebook, Myspace, Flickr, Google, Blog, Orkut, etc…, são as ferramentas da nossa socialização na sociedade Internet. Quem não tem, não existe…é muito simples!
Exagero, no Mesmo o Brasil apresentando altos índices de conectados, a vida ofline ainda é mais importante do que a online. Não se assustem, mas a gente ainda consegue viver sem internet.
Fatores como economia, saúde e educação independem do que as webcelebridades postam em seus blogs ou twitter.
As pessoas gostam de aparecer e a internet possibilita isto a qualquer um, basicamente em qualquer lugar. Por isto que as redes sociais fazerm tanto sucesso. Mas nada disto é Essencial para o ser humano
Na teoria e otimo. Na pratica, este controle nao e real. Estamos todos expostos a hackers e a sistemas que nos induzem a perder o controle do que e publico e do que voce quer que seja privado. Qualquer informacao colocada em um documento eletronico ou fisico esta sujeito a uma exposicao involuntaria ou mesmo a um acesso indesejado.
Na pratica nao faca coisas que se envergonhe, e assuma que qualquer informacao criada um dia pode ser exposta. Como antigamente voce poderia guardar um segredo em um cofre, da mesma forma este cofre um dia pode ser aberto ou porque voce confidenciou a chave a alguem, ou perdeu a chave ou mesmo alguem mal intencionado invadiu seu cofre. Esteja alerta pois os mal intencionados vao procurar aquilo que voce tenta proteger.
Hoje por uma promocao simples na internet – “preencha aqui e ganhe x desconto” – muitas vezes revelamos informacoes que podem ser usadas mais tarde de forma que voce nao esperava. Cameras digitais estao em todos os lugares e em breve voce tambem tera que assumir que estara sendo 100% monitorado. Nao vai demorar e estaremos todos chipados e com nossa localizacao definida a cada segundo.
Sempre havera o balanco do privado vs. identificado oficial. Cada vez mais optaremos para sermos identificados (para usufruir beneficios automaticos)e mais dificil sera manter algo privado (apesar de conceitualmete tentarmos manter pelos menos oficialmente o conceito de privacidade).
Mais facil assumir que nao ha privacidade e aproveitar os beneficios disto. A tecnologia esta e vai continuar mudando nossos habitos e costumes e eventualmente seremos todos mais transparentes.