O Cliente na Web 2.0
Quando comecei a fazer sites, no já distante ano de 1998, eu era o famigerado “sobrinho”: um pré-adolescente (não tinha espinhas na cara nem óculos) que fazia sites por dinheiro suficiente para um final de semana de curtição, algo como 200 reais.
Naquela época, os clientes pediam recursos muito comuns, coisas que eles viam em outros sites e achavam que seria interessante ter no site da sua empresa. Esses recursos eram sempre os mesmos, alguns que eu lembro agora: chat; notícias, apresentação em Flash, menu vertical à esquerda.
O problema com isso é que os sites eram todos cópias, com os mesmos elementos, e salas de chat sempre vazias… O recurso tecnológico era empregado simplesmente por “ser possível” e não por ser necessário. O chat era colocado não porque existiam pessoas interessadas em discutir o assunto, era colocado simplesmente porque o chat do UOL era legal e nós podemos ter um igual!. O cliente não notava que o mais importante no chat do UOL era sempre ter muitas pessoas nas salas, o que não aconteceria no site com 10 visitantes diários da fábrica de embalagens em PVC.
Hoje a entidade Cliente ainda existe (ainda bem), e pensa do mesmo jeito, mudaram apenas os recursos que os sites “precisam” ter: estrelinhas de votação, AJAX, RSS, mashup de qualquer coisa.
Os sites já não são cópias visualmente, mas conceitualmente continuam sendo. As estratégias continuam na mesmice: vídeos “virais”, comunidades “plásticas e jabazeiras” em redes sociais, blog monótono. O erro histórico se repete: não usa-se o recurso por ele ser necessário e enriquecedor, usa-se por ser possível. Não importa se a comunidade Eles perguntam, elas respondem é um sucesso por ter um tema que instiga as pessoas a interagirem, o importante é que nós podemos ter uma comunidade nessa rede social e atingir 8 milhões de pessoas!
ou nós podemos ter nossa própria rede social, cujo tema é: cultura da cerveja. E tudo na rede social é relacionado à cerveja!
e lá vem mais um cliente achando que é gênio da estratégia na Web 2.0.
Cliente 1.0 | Cliente 2.0 |
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Chat vazio | Social Networking vazio |
“Cadastre-se” ultra-detalhado | RSS de qualquer coisa |
e-commerce com teias de aranha | loja em plataforma externa (Americanas, Mercado Livre, Amazon etc.) |
Site cópia de panfleto | Site mashup “coisas Web 2.0” |
Noticias irrelevantes | Blog corporativo irrelevante e abandonado |
Apresentação em Flash | *qualquer coisa* em AJAX |
Atendimento on-line | Google Maps mostrando a localização da empresa |
Não estou, de maneira nenhuma, dizendo que qualquer um dos recursos acima apresentados são ruins, são só ferramentas, não podem ser ruins ou boas, tudo depende do uso. O que não pode ser permitido é que o cliente entube sua decisão de desenvolvedor e ignore sua experiência, se o blog corporativo dele vai ser abandonado às traças após meia semana, por que fazer?
Você não pode, nunca, fazer algo ruim só porque alguém está te pagando, esse tipo de atitude além de anti ética traz recompensas desagradáveis. Pense sempre nos resultados, se você estiver sempre envolvido com ações de resultados pouco satisfatórios, sua recompensa à longo prazo dificilmente será boa.
[update] O Gilberto Jr fez um texto que complementa MUITO BEM esse aqui, continue lendo pra ter conselhos de como lidar com esse Cliente 2.0. [/update]
Vi um filminho rebobinando diante dos meus olhos… hehe
Ótimo assunto, mas ainda não tive um cliente que pedisse RSS, Ajax e mashups. Pra lhe ser sincero, duvido muito que algum deles saiba o que significa mais de um item desses.
Muito interessante o teu texto. Realmente isso acontece muito, em diversas áreas, os clientes querem certas tecnologias apenas pelo fato delas existirem, e não por precisarem das mesmas!
Eu já tive cliente que insistiu em ter servidor linux rodando samba, mesmo sem necessidade e tendo toda a rede em plataforma windows, vai entender?
Eu ainda sou sobrinha, mas o pior é que não ganho nada ainda porque nem computador próprio eu tenho.
Legal você voltar a escrever com freqüência.
Paz e bem!
Isso funciona quando você trabalha por conta própria, por exemplo. Eu vou falar pro meu chefe que eu não vou fazer o que o cliente pediu pra ele porque não vai ter resultado? Acho que não… Posso sugerir mudanças mas se o cliente bate o pé que quer aquilo minha função é atender o cliente…
As vezes o desenvolvedor por mais bom senso que tenha, cai naquela de que, “se o cliente quer, ele faz”. No fim das contas, a gente acaba fazendo o que pode. O certo mesmo é sempre deixar o cliente ciente dos resultados que determinados recursos podem ou não trazer e nunca,jamais, garantir esses resultados, pois afinal, quem garante que o cara vai usar mesmo…
Essa questão do vazio da utilização de certos elementos ou ferramentas é sempre foi um paradoxo de tostines para mim. A culpa é do cliente que não tem maturidade suficiente para aceitar as sugestões do profissional que ele está pagando para lhe entregar uma solução? Ou é nossa, que não temos vontade/capacidade suficiente para fazê-los entender so benefícios de se ter uma estratégia real por trás dos produtos (softwares, sites, etc)?
Rodrigo – não pode mandar, mas pode fazer sua parte pra educar. Em empresas grandes, o que eu vejo muitas vezes é um setor de atendimento que não faz a mínima idéia do que tá vendendo.
Por onde começar um site?
Uma empresa que quer começar a ser aventurar nesse ramo ou expandir o seu mercado pela web, como ela fazer, poderia escrever sobre isso…
Construindo pontes…
Gostaria de indicar o Imobilien, site brasileiro que implementa um novo conceito de busca de imóveis, através do mapa das cidades(sem listas, mais dinâmico). Essa tecnologia já é usada nos EUA e Europa, mas aqui ele é pioneiro.
Obrigada