Como comecei com Le Parkour

Definindo o parkour e desfazendo confusões

Ao contrário do que costumam pensar os leigos, o parkour não é sobre pular coisas e fazer vandalismos num treino para ser trombadinha. Le Parkour é sobre mover-se da maneira mais eficiente possível no ambiente em que você está inserido.

Mortal no suporte da tabela de basqueteLevando isso em consideração, podemos deduzir que saltos mortais, giros desnecessários, acrobacias e firulas em geral não fazem parte do Parkour por não proporcionar movimentação eficiente em nenhuma hipótese. Esse tipo de movimento pode ajudar a controlar e conhecer o corpo, mas são desnecessários na prática do Parkour, quem pratica entende o motivo.

Como começar a fazer parkour

Conheci o parkour a três anos atrás, por conta de um vídeo enviado para a lista de e-mail da empresa que trabalho, após isso, foi enviado, como complemento ao assunto, uma reportagem do jornal de Brasília sobre os treinos no Parque da Cidade, no Castelinho. Fiquei interessado no assunto mas não comecei a prática porque os treinos eram a mais de 40 km da minha casa.

Grudados na parede

Aproximadamente um ano após isso eu e uns amigos assistimos um filme chamado B13 (Décimo Terceiro Distrito, no Brasil), isso nos deixou pilhados. O Alk começou a treinar sozinho, menos de um mês depois já éramos uns 5 treinando, e o grupo não parou de crescer desde então (não sei se isso é bom ou ruim, vale outro post).

Todos os traceurs (praticantes de parkour) que eu conheço tiveram início parecido:

  1. queríamos executar o maior número possível de manobras.
  2. Wall Spin achávamos que wall-spin (foto ao lado, giro completo com as mãos na parede, firula) é o que há de mais lindo no que nós definíamos como Le Parkour.
  3. achávamos que salto mortal é o santo graal do esporte (discute-se muito se parkour é ou não é esporte, o consenso é não definir como esporte por não haver competições).
  4. pensávamos que free-running e parkour são a mesma coisa.
  5. saltávamos do alturas muito maiores que nossos joelhos suportavam, o Fabrício quebrou o pé no primeiro mês de treino.

Marco Gomes no meio do salto Pra maioria das pessoas essas confusões são resolvidas nos meses subsequentes, ou então o praticante desiste dos treinos. No meu caso, o esclarecimento veio com vídeos e textos de David Belle, o criador da disciplina; com o apoio, esclarecimento, broncas e críticas de dois dos traceurs de Brasília, Alex e Alberto; com a intensa discussão com os companheiros de treino sobre concentração, métodos, treinos e técnicas; e com as instruções da nossa (ex) treinadora oficial: Poliana Souza, uma das primeiras traceuses do DF.

King-Kong sobre container no comprimento Belle nos ajuda todos os dias, sempre que leio um texto dele (ou sobre ele), assisto um vídeo, vejo fotos. Seus ensinamentos são muito consistentes e a disciplina por ele criada é muito bem limitada e definida.

Poliana A Poliana me ajudou com seu infinito conhecimento em Educação Física, o problema é que ela usa esse conhecimento contra quem fala ou faz besteira =D Recomendou métodos de treinamento, exercícios, repouso e outras peculiaridades que só quem estuda muito sabe. Graças à ela mudei várias vezes minha alimentação e fiz atividades complementares ao Parkour, como corrida e malhação na rua. Brigamos várias vezes também, o que ajudou a definir o que eu queria pros meus treinos e meu futuro na disciplina.

Em minha humilde opinião Alex e Beto são os mais experientes praticantes com disposição pra ensinar aqui no DF. Podem até existir praticantes tão experientes (ou mais, vai saber) quanto eles, mas os dois são os mais acessíveis. Dispostos a ajudar e ensinar (mas nem sempre, não abuse :), eles têm paciência com a onda modinha que todo iniciante passa, deixando o cara descobrir sozinho que um bendito palm-spin não vai acrescentar em nada no seu treinamento de Parkour. Se ele descobrir sozinho, merece os ensinamentos, se não descobrir vai acabar parando antes de um ano de treino.

Ruinas Após descobrir o real sentido do parkour, notei que meus treinos deveriam mudar, eu precisava ser forte, concentrado e determinado assim como eles dois, alguns amigos chegaram à mesma conclusão ao mesmo tempo que eu. Mudamos drasticamente nossa rotina de treino, fazendo as tão famosas repetições e deixando os treinos recreativos mais esporádicos. Em três meses de treinos repetitivos eu evolui mais que em um ano de treino descambado. Continuei com o mesmo peso que tinha antes dos três meses, mas minha força e condicionamento físico melhoraram consideravelmente.

Adotei a mentalidade de evolução lenta, gradual e permanente. Ganhei 10 quilos de massa corporal (músculos!) em um ano e hoje consigo fazer movimentos que a maior parte dos bombados jamais sonhou em fazer, e isso não é anormal, qualquer pessoa que treine com dedicação consegue (até bombados!).

Fluxo Urbano Fiz alguns amigos novos e reforcei várias amizades com os encontros constantes nos treinos. Emílio, Alk, Esdras e Teco são alguns dos mais disciplinados que continuam treinando (o Alk menos, ele fica só curtindo a fama e ensinando os novatos, folgado). Ajudei a formar alguns novos traceurs no Gama, vendo eles ganharem força física, concentração, calma, controle do corpo e demais vantagens que a prática traz com a continuidade dos treinos. Me decepcionei com vários outros que desistiram sem motivo.

Fizemos vários intercâmbios com o pessoal das outras cidades do DF, Sobradinho, Taguatinga, Valparaíso, Plano Piloto, Guará e Santa Maria são alguns dos lugares já visitados por nós e cujos praticantes já foram ao Gama treinar conosco.

Estágios do salto de precisão

Salto de precisão Somos, provavelmente, o pessoal que mais treina em ambiente não urbano aqui no DF, com um lindo cerrado à disposição, temos paredões de variados tipos. Eventualmente nos enveredamos em meio às árvores tortas, escalamos uns pedregulhos, corrermos em terreno irregular, fazemos movimentos quadrupedais na terra, tomamos banho de água limpa e bebemos água das nascentes do Gama, tudo com muito mais cuidado e menos pessoas que os treinos na cidade, claro.

Os treinos no Gama se dividiram em dois grandes grupos, ainda bem. Agora temos aproximadamente 12 pessoas treinando constantemente conosco, normalmente subdivididos em grupos de 4 pessoas com características físicas semelhantes que fazem as mesmas repetições. Os visitantes aparecem sempre, alguns ficam, a maior parte desiste, mas isso e normal e aceitável, não é todo mundo que aceita passar sua tarde de sábado correndo com um tronco acima da cabeça.

Salto de precisão Ainda estou só começando meus treinamentos, perto dos 10, 12 anos de treino constante dos gringos, meus 18 meses de prática de nada valem. Mas eles também já foram inexperientes, espero ter 20 anos de treino daqui 18 anos e 6 meses, provavelmente ainda estarei pedindo pro Alex me ajudar a fazer saltos de precisão maiores.

Primeiro faça.
Depois faça bem.
Depois faça bem e rápido.

David Belle